A FLAUTA MÁGICA, de Ingmar Bergman, 1975, Suécia.
Prémios BAFTA TV 1976 – Melhor Programa Estrangeiro
Golden Globes 1976 – Nomeação Melhor Filme Estrangeiro
Sinopse: A Rainha da Noite oferece Pamina, a sua filha, a Tamino, mas este terá de traze-la de volta da companhia do seu pai, o sarcedote Sarastro. Dá a Tamino uma flauta mágica e sinos mágicos ao caçador de pássaros Papageno, que segue Tamino e quer arranjar uma esposa. O duo começa assim uma viagem de descoberta e amor.
O Filme, uma adaptação da ópera homónima de Mozart, fala-nos sobre o torpor da humanidade, num hipnótico feitiço de longo tempo, uma idade obscura, e a transição para a luz do esclarecimento, da razão, o novo tempo do Iluminismo. Numa concepção narrativa profundamente enigmática, considera-se esta história como uma exteriorização da forma de ser maçom, intrínseca ao própria Mozart, envolvendo sempre um diálogo entre o obscurantismo medieval, o romance, o fantástico, e a modernidade, numa transição incindível entre tempos históricos radicais.
As três provas de Tamino simbolizam o percurso que a humanidade terá de percorrer rumo à libertação dos dogmas antigos que a amarravam numa existência infeliz. Daí que primeiro haja a necessidade de impor o silêncio, de resistir à tentação da intriga. Depois segue-se a partilha do silêncio existencial com o silêncio sepulcral, a dialética da presença e da ausência. É neste estádio que emerge a sedução, o sonho, o fantasma do amor, um amor que enlouquecer – Pamina chega a ser instigada pela sua mãe, a Rainha da Noite (o tempo medieval) a cometer o parricídio, que não chega a concretizar. Na última das provações de Tamino para alcançar a iluminação, chega a coragem absoluta, o desprendimento do tudo rumo à morte, ao despojamento da individualidade e do egoísmo por causas superiores, metafísicas, por ideias perenes. A descida aos infernos, sob proteção da música – a flauta mágica – é a condição para a ascensão de um novo homem.
“Aquele que avança para a luz
Pelo difícil caminho da noite
É purificado pelo ar e pela terra
E pelo fogo e pela água.
Quando a mente é revigorada
E se torna firme e forte como o aço
O caminho fica livre
Para um maior objectivo.
O seu olhar, que até então
Estava encoberto e sombrio
Irá contemplar
O sentido e mistérios da vida“
O filme, magnífico, termina, em êxtase, com o triunfo da luz e do amor sobre as trevas e a frialdade do espírito. “A mais obscura das noites é banida pelo sol. A torrente de luz do saber alcançou a escuridão.“
Bergman não é apenas património sueco ou europeu, é todo ele pertencente à humanidade! Assim também a ele pertencem as palavras: “salvé os sábios…que não podem ser derrubados“!
Hélder Filipe Azevedo
Categorias:Filosofia
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