TRIBUNAL, Índia, 2014.
Court (no original) é um filme indiano, de 2014, dirigido por Chaitanya Tamhane, e que, além de ter sido o candidato oficial do país aos Óscares da Academia, venceu em alguns importantes certames internacionais.
Começa com um poeta/professor proferindo numa praça um poema cantado que falava da “humanidade que está na sua jaula, queimando-se e desintegrando-se”, um lugar inabitável onde se “esquecem dos bons e se louvam os inúteis”. A partir daqui, a trama desloca-se para um tribunal indiano onde o nosso poeta, Narayan Kamble, é acusado pelo Estado (polícia) de ser responsável pela morte de um pobre operário mineiro que havia sido encontrado morto e que testemunhas afirmavam ter-se suicidado incitado pelos poemas de Kamble.
O filme passa então a acompanhar a vida das quatro figuras fundamentais da trama, representativas, cada uma na sua distinta dimensão, da própria especificidade indiana. Acompanha o infortúnio do poeta que se vê enredado numa teia de especulação e abuso de autoridade. Acompanha a vida da advogada de acusação (equivalente ao nosso Ministério Público), uma burocrata sem grande profundidade intelectual mas que deseja progredir numa sociedade profundamente patriarcal. Acompanha também a luta do advogado de defesa, um penalista e defensor dos direitos humanos que luta contra uma sociedade que muitas vezes não compreende o alcance da lógica e da razão. E, finalmente, acompanha a vida do juiz do caso, um homem também ele produto de um sistema completamente arcaico e disfuncional.
O filme traz para o espectador uma perspectiva realista sobre as eternas questões sociais, como as questões de justiça e injustiça, a luta contra o autoritarismo e a perseguição policial, os direitos humanos, as desigualdades materiais, o absurdo enraizamento dos costumes e, também, o desequilíbrio entre um tempo que se devora a si mesmo e uma realidade que muitas vezes ultrapassa a ficção nos seus modos de ser.
Cerca de 120 minutos em que aprendemos muito sobre os outros, que podem não passar de nós próprios ao espelho.
Absolutamente fundamental! Nota 9/10
© Hélder Filipe Azevedo, 2016