TOM OF FINLAND. Dome Karukoski, Finland/Sweden/Denmark/Germany/Iceland/USA, 2017.
Tom of Finland é uma co-produção nórdico-americana, de 2017, candidato da Finlândia aos Óscares de 2018, na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, que aborda a génese biográfica desse significativo ícone da cultura queer. Na pré-história da existência humana, ou seja, quando não havia internet, nem nada que se parecesse, a revista, o panfleto e a fotografia eram basicamente os únicos meios capazes de difundir e generalizar o erotismo em geral e o homoerotismo em particular. O criador deste homem extremamente musculado e vestido a justo cabedal, Touko Laaksonen, um decorador e publicista finlandês, soldado de guerra, quando a Finlândia foi invadida pela Rússia de Estaline, e crítico da forma como os homossexuais eram tratados no seu país, é biografado de uma forma esteticamente honesta. Fascinado desde tenra idade com o corpo masculino, viveu esse duro embate com os conceitos sociais de proibição, crime e pecado. Foi obrigado a viver demasiado tempo na escuridão, escondido na mentira, num lugar de hipocrisia. Tudo era proibido nessa Finlândia fria, outrora dominada por um império eslavo, um país luterano e ainda impregnado de algumas ideias (políticas, religiosas, sociais, culturais, etc) profundamente conservadoras. O autor ousou transpor as fronteiras da pequenez finlandesa e exportar um produto ousado e irreverente, que viria a tornar-se objecto de culto de uma geração de homens que aspiravam à chamada libertação gay. Conseguiu-o nos Estados Unidos dos anos 60, 70 e 80. A popularização dos seus desenhos demorou a chegar a uma Europa sempre tão complicada e em permanente contradição.
Proibido em mais de 50 países, injustificadamente, o filme é interessante e nada controverso. Reafirmo que apenas retrata a vida desse homem singelo que ousou objectivar artisticamente a fantasia e os desejos reprimidos de muitos homens que sofreram na pele uma ditadura de conformação. O filme é um documento valioso porque desmistifica os habituais clichés que povoam todo o imaginário daqueles que, pela ignorância ou pelo medo, se recusam a conhecer ou reconhecer o direito à diversidade.
Nas palavras do realizador:
“Dedicámos cinco anos a investigar a vida do Tom of Finland porque, embora ele seja uma referência mundial da arte gráfica e da cultura gay, poucos conhecem verdadeiramente a sua história de vida, que é extremamente interessante e se mantém inspiradora nos tempos que correm”
Um filme estética e historicamente muito interessante.
Nota: 8/10
© Hélder Filipe Azevedo, 2017
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